Um fiasco com boas intensões
O nosso maravilhoso mundo é feito de grandes ideias criativas, mas infelizmente nem todas tiveram uma boa execução. O 3DO foi um console que nasceu a partir de uma ideia que prometia mudar por completo o mercado dos video games, porém por conta de decisões questionáveis, ele amargou o fracasso.
A sua história se inicia com um homem de grande visão chamado Trip Hawkins. Ele tinha um sonho de fazer seu próprio simulador de futebol americano. Ele até tentou criar uma versão de papel e caneta, mas acabou sendo um fracasso. Ainda sim, o jovem Trip era talentoso, tanto que depois ele virou diretor de Estratégia e Marketing da Apple.

A sua história mudou depois que ele viu que poderia realizar seu sonho de criar um simulador, só que de forma digital. Foi aí que ele abandonou seu emprego na Apple e fundou a Eletronic Arts, ou só EA para os íntimos.
No seu novo empreendimento, ele conseguiu um acordo com o famoso treinador e comentarista John Madden, é assim nasceu a franquia Madden NFL.

Nesse período a EA tinha uma boa imagem com os consumidores e desenvolvedores, diferente dos tempos atuais, onde a empresa foi protagonista de várias polêmicas.
Mesmo com o grande sucesso da sua publicadora, Trip queria fazer mais. Ele queria revolucionar o mercado de consoles. Para isso, fundou a 3DO Company em 1991.

Os jogos são feitos visando plataformas. Um jogo pode ser feito exclusivamente para o PS4 e os donos de outros consoles ficam só na vontade. O objetivo de Trip era acabar com isso e tornar esse mercado semelhante aos dos filmes em DVD, onde não existe exclusividade de aparelho.
O 3DO na verdade era um padrão de console onde outras empresas podiam pegar uma licença para projetar o seu próprio. O primeiro modelo foi lançado em 1993 pela Panasonic e se chamava Panasonic FZ R.E.A.L 3DO Interactive Multiplayer.

A 3DO Company inclusive foi atrás da Sony e SEGA para tentar uma parceria. A Sony recusou, já que na época ela estava trabalhando no primeiro Playstation, porém a SEGA esteve perto de fechar o acordo.
Tom Kalinske, CEO da SEGA of America na época, disse em uma entrevista que chegou a ter reuniões com Trip em Tóquio, mas a oferta foi recusada por conta dos custos altos.

Falando em custo, esse foi um grande calcanhar de Aquiles do console. O seu valor inicial era de US$ 699. Quantia que já é alta hoje, mas na época era ainda mais assustadora. Com esse precinho camarada, eles tentaram vender o aparelho como um artigo de luxo, mas não deu muito certo.
Esse valor altíssimo foi por causa da estratégia de querer lucrar em cima da venda de hardware. O tradicional é vender video games à prejuizo e obter lucro com a venda de jogos. Esse conceito permanece até hoje.
Um outro problema grave do 3DO foi que ele sofreu mudanças pouco antes do lançamento. Isso foi uma dor de cabeça para os desenvolvedores. A consequência disso foi que Crash‘n Burn foi seu único jogo de lançamento.

Mesmo com versões mais baratas no mercado, o estrago já tinha sido feito. Para piorar a situação, em dezembro de 1994 foi lançado o implacável PlayStation 1.
Se vendo em uma competição impossível, o 3DO foi descontinuado no final de 1996. O hardware foi vendido para Samsung pelo valor de US$ 20 milhões. A empresa até reviveu o console na Coreia do Sul, mas não durou muito tempo.

Ainda existia uma luz de esperança para 3DO Company, e ela se chama M2. Inicialmente seria um periférico que daria mais poder ao console, mas depois virou uma plataforma própria e seria fabricado exclusivamente pela Panasonic, que inclusive procurou a SEGA em 1996 para uma parceria, mas a dona de Sonic não queria assunto. O M2 nem nasceu, mas foi cancelado em 1997.
Juntando os cacos, a 3DO Company virou um desenvolvedora multiplataforma, mas sem jogos de muito sucesso. A sua principal franquia foi Army Men, daqueles famosos soldadinhos verdes que quase todo mundo já teve na infância.

O sonho teve fim em 2003 com a declaração de falência da empresa. A sua história de fracasso acabou de certa forma sendo um grande aprendizado para a indústria, assim como outros que mostraram para todos o que não fazer.
Mesmo com uma vida conturbada, até que ele tinha um certo potencial. Ele recebeu ótimos porte, como: Super Street Fighter II Turbo, Samurai Shodown, foi o único console a receber um port do primeiro Alone In The Dark, e foi palco de estreia para Gex e Need for Speed. Não posso esquecer de Night Trap, que querendo ou não, tem sua fama.

Uma curiosidade interessante é que Metal Gear Solid foi originalmente planejado para o 3DO, mas pelo console ter sido descontinuado, a Konami migrou seus planos para o PlayStation.
Mesmo com uma péssima execução, a sua causa era nobre. Hoje em dia muito se fala dos malefícios da exclusividade e como isso priva certos jogadores conhecerem outras obras.
Fico imaginando o mundo como seria se o 3DO desse certo. Seria até bom no quesito fim das exclusividades, mas como seria a concorrência? A empresa X tem um console mais bonito que o da Y? O console Z vem 3 meses de Netflix?

A concorrência entre fabricantes impulsiona a evolução dos hardwares. Se padronizarem os aparelhos, talvez teríamos hoje video games mais fracos. E se formos olhar os consoles da Nintendo, isso também poderia embarreirar a criatividade das empresas.
Isso é só uma hipótese. Não tenho como viajar para um linha do tempo paralela para conferir como ficaria o mundo se o 3DO desse certo ou se Santos deixasse o Vitória ganhar para rebaixar o Palmeiras em 2015. São várias possibilidades, mas vamos ficar com nossa realidade.
Já que leu até aqui, aproveite e conheça o nosso canal no Youtube. Lá estamos sempre comentando os principais acontecimentos do mundo dos jogos, trazendo conteúdos exclusivos e muito mais. Estamos também no Facebook e Twitter.
Precisando de um redator? Acabou de encontrar. Mande um direct lá no meu Twitter pessoal.