Enslaved – Odyssey to the West: Um bom filme que tenta ser um jogo
Poderia ser um bom filme, mas como jogo…
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Poderia ser um bom filme, mas como jogo…
Em um período onde a Ninja Theory, hoje conhecida pelo seu trabalho em DMC Devil May Cry e Hellblade, buscava seu espaço na indústria, eles decidiram criar uma continuação de Heavenly Sword, seu jogo mais relevante na época.
Por conta de problemas com a Sony, que é a dona da IP, o estúdio abandonou o projeto e decidiu criar uma animação em CGI. O projeto foi mostrado para alguns produtores mas a ideia foi recusada. Então decidiram transformar essa animação em um jogo, dessa vez com a Bandai Nanco como publicadora.
Enslaved: Odyssey to the West é uma releitura do popular romance chinês, A Jornada para o Oeste, que foi quem inspirou Dragon Ball e mais várias obras. Diferente do ambiente mítico chinês, temos um mundo futurista devastado por uma guerra e repleto de máquinas, que aqui são chamados de mecha.
No lugar do brincalhão Rei Macaco temos o brucutu criado na floresta chamado apenas de Monkey. A sua arma continua sendo um bastão, com a diferença que aqui ele é tecnológico e pode até efetuar disparos. Na sua calça tem um tecido que faz referência a calda de macaco e até mesmo a nuvem voadora está presente aqui.
Ao nosso lado na jornada e também peça vital na gameplay temos Trip, uma hacker que somos obrigados a proteger. Embora tenhamos que ser seu guarda-costas, ela tem sua utilidade durante a aventura, não chegando a ser um peso morto.
Embora tenha se tornado um jogo, o DNA cinematográfico ainda se manteve firme forte graças a presença do escritor, roteirista e diretor, Alex Garland, que tem em seu currículo o roteiro do filme do Juiz Dreed (2012) Extermínio (2002) e dirigiu Ex-machina (2015).
Garland inicialmente estava envolvido somente com a história, mas seu interesse foi tão grande pelo projeto que ele se envolveu até supervisionando a parte do designe. Ele queria que a história e a gameplay trabalhassem em sintonia.
Uma curiosidade interessante sobre Garland é que ele supervisionou a história de DMC: Devil May Cry.
Para completar, a Ninja Theory contou novamente com a participação de Andy Serkis, o grande mestre das capturas de movimentos, responsável pelos papéis do próprio King Kong no reboot de 2005, Smeagle/Gollum em Senhor dos Anéis e Hobbit, e Cesar no reboot de Planeta dos Macacos. Ele também é o Ulysses Klaue (Garra Sônica) do universo cinematográfico da Marvel e também o Alfred do Batman de Robert Peterson. Com a Ninja Theory, o ator foi responsável pela captura de movimento e dar voz ao Rei Boham em Heavenly Sword.
Em Enslaved, Serkis dá vida a Monkey, sendo sua voz e responsável pela sua captura de movimento. Ele também tem outro papel dentro da história, mas eu vou deixar para os curiosos que querem jogar descobrir sozinhos.
Nos momentos iniciais, onde Monkey está fugindo de um avião e somos introduzidos as mecânicas padrões de combate e de plataforma, já pode se notar que boa parte da jornada vai ser cansativa.
A Ninja Theory é reconhecida por criar ótimas mecânicas de combate . Você pode até não gostar da história de DMC, mas não dá para negar que ele é um hack and slash espetacular. As batalhas de Hellblade, mesmo simples, são magníficas. Já os confrontos de Enslaved são sem vida e repetitivos.
O que dá vida a um combate de um jogo é um bom ritmo. Independente se ele é mais lento ou mais frenético, se você e os inimigos tiverem as ferramentas certas, os confrontos te deixarão vidrado. A diversidade de inimigos e como eles aparecem no campo de batalha também contribuem para acrescentar mais dinamismo as lutas. É isso que um jogo com bom combate faz, e foi um dos quesitos que credenciou a Ninja Theory. Mas parece que a obsessão do estúdio por criar uma aventura cinematográfica acabou prejudicando esse ponto.
Garland queria que cada confronto com os mechas fossem únicos como em um filme, tendo o seu momento certo para acontecer. Eu não sei o quanto ele interferiu nos movimentos do protagonista e no dos inimigos para trazer esse ar mais hollywoodiano, mas no produto final jogamos com um personagem com pouquíssimas ferramentas interessantes e oponentes sem graça.
São inúmeras coisas que poderiam ser feitas com um personagem com habilidades acrobáticas como Monkey, mas eles optaram por deixar o personagem engessado na hora das lutas.
O combate é tão ruim que nem os upgrades acrescentam em nada para melhorar o ritmo.
Se no “mano a mano” Enslaved é ruim, imagina como shooter? O bastão do protagonista também pode ser usado para efetuar disparos que causam dano ou atordoa os inimigos. Me desculpe por falar assim, mas é grotesco os trechos onde você é obrigado a usar esses disparos. Esse foi um recurso desnecessário e poderia muito bem ficar de fora do produto final.
Monkey pode pular em plataformas, se pendurar em determinados objetos, mas é tudo de forma automática. Não existe perigo de calcular mal um salto. Se é para você chegar em tal lugar, mesmo que pareça desafiador, é só apertar um botão que ele irá para o local sem te oferecer um mínimo de emoção. Isso faz todos os trechos onde se deve usar habilidades acrobáticas um verdadeiro tédio.
Para piorar, você está amarrado a Trip. Graças ao objeto que ela pois na cabeça do protagonista no início, se ele se afastar, é morte. Nada de tentar voltar um pouco para pegar uma orb que você esqueceu para evoluir um atributo. Pelo menos ela serve para te ajudar contra inimigos armados usando um holograma para distrair eles.
Agora que já detonei boa parte da gameplay, tenho que deixar um elogio a jogabilidade com a nuvem. Os trechos onde você usa esse recurso para surfar pelo ambiente são os mais divertidos. Pelo menos eles acertaram nesse ponto.
Já está bem claro que a gameplay definitivamente não é o forte de Enslaved, porém eu tenho que admitir que a história dele é espetacular. Ela é tão boa que me fez engolir a seco todos os problemas citados só para ver sua conclusão, e valeu a pena.
A história gira entorno de Trip e seu grande desejo de retornar ao seu lar, ao ponto de colocar um dispositivo na cabeça de Monkey, o forçando à colaborar. Conforme progredimos, conhecemos melhor os personagens e sua relação vai evoluindo de forma orgânica.
Não irei me aprofundar em detalhes sobre a história. Mesmo ele sendo um jogo de 2010, ainda tem gente que nunca jogou, eu mesmo fui jogar esse ano. Ainda que a gameplay não seja boa, o seu enredo compensa as horas dedicadas.
Vale destacar aqui também o belo trabalho de dublagem, mas uma vez destacando o trabalho de Serkis que é um ótimo artista, tanto atuando, dublando e emprestando seus movimentos.
Enslaved: Odyssey to the West daria um ótimo filme, mas infelizmente ele é um jogo, e se não fosse a história, ele seria mais um game medíocre para se deixar de lado. Se você gosta de uma boa história e não liga muito para gameplay, esse jogo é para você. Porém se apenas curti um bom enredo, mas não está a fim de sujar as mãos, o Youtube está aí para te ajudar.
Enslaved: Odyssey to the West foi lançado em 5 de outubro de 2010 para PS3 e Xbox 360 e está disponível para PC.