O controverso e revolucionário Resident Evil 4
Um dos jogos mais influentes da história
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Um dos jogos mais influentes da história
Por Ronald Junior
Resident Evil é uma das principais franquias dos games e tem uma importância gigantesca na cultura pop em geral. Em um determinado período, a famosa série de jogos de bioterrorismo precisava se reinventar, mas sem perder sua essência. Depois de longos 7 anos de desenvolvimento, e diversos conceitos descartados (inclusive um virando Devil May Cry), Resident Evil 4 foi lançado em 2005 para Gamecube, PS2 e para mais uma infinidade de plataformas.
Ele não só deu continuidade a franquia Resident Evil, mas também foi responsável por revolucionar os jogos em terceira pessoa com a câmera no ombro. Ele é sem duvidas um marco histórico para indústria, mas chega de só elogiar e vamos analisá-lo por completo para ver na prática se ele é realmente isso tudo.
Resident Evil 4 começa com Leon, agora um agente especial, em uma missão de resgate a filha do presidente dos Estados Unidos, Ashley Graham. Ela foi sequestrada por uma seita misteriosa chamada de “Los Iluminados” e levada até um vilarejo na Espanha
Diferente dos zumbis dos jogos anteriores, aqui temos pessoas infectadas por parasitas chamados de “las plagas”. Eles são como pessoas normais, só que sem o mínimo de higiene.
A mudança mais notória foi a troca da câmera fixa pela “over the shoulder”, o enquadramento sobre o ombro do personagem. Para alguns fãs, essa foi quase uma blasfêmia. A câmera fixa esteve presente em quase todos os jogos da franquia, porém essa mudança foi revolucionária para a indústria, com jogos como Gears of War, The Last of Us, Dead Space e muitos outros abraçando esse estilo de câmera. Embora muitos fãs reclamem, esse enquadramento te deixa mais sensível ao que está acontecendo no jogo. Acredito que essa foi uma evolução saudável para franquia.
Diferente dos capítulos anteriores que davam foco ao terror, o quarto jogo da franquia flerta com a pancadaria e tiroteio desenfreado. Calma que o terror ainda existe aqui, mas em uma dose menor. O fato de focar mais na ação não quer dizer que ele seja um Call of Duty da vida. Você não pode, por exemplo, andar e atirar ao mesmo tempo, fazendo com que você pense um pouco na sua posição antes de atirar, e a mira propositalmente imprecisa ajuda a aumentar a tensão em certas situações. Mesmo com esses aspectos que tornam sua ação mais engessada, o seu combate é muito divertido e ganha um brilho maior no modo “Mercenaries”, que é inteiramente focado na pancadaria e tiroteio em um estilo mais arcade.
Aqui foi introduzido também o amado inventário da maleta, onde muita gente aprendeu a ser organizado. Cada item ocupa um certo espaço do seu inventário, isso torna a organização parte do seu gerenciamento. Por diversas vezes você deverá parar um instante e combinar alguns itens e trocar outros de lugar para liberar mais espaço, principalmente ao comprar novas armas. Esse conceito é bem divertido, embora na teoria pareça um tanto chato, porém na prática isso não quebra o ritmo do jogo.
Falando em recursos, Resident Evil 4 é como uma mãe que não deixa faltar nada pro seu filho. Sério. Poucas vezes você se verá sem itens de cura ou sem munição. Eu mesmo terminei o jogo com itens de sobra. Bem, por que isso acontece? Acredita-se que seja por conta de um sistema de dificuldade adaptativa, mas a Capcom ainda não se pronunciou negando ou confirmando a existência do sistema.
A inútil faquinha finalmente ganhou uma boa utilidade nas mãos de Leon. Ela serve para destruir caixas e também é muito útil para matar inimigos caídos e economizar umas balas. Na situação certa, você pode até matar um ganado só com ela, mas é bom avisar que ela não é a melhor opção para ser usada contra um inimigo de pé.
O arsenal de armas é bem vasto e você ainda pode evoluir atributos delas com o vendedor. Falando no vendedor, o fato de você ter que comprar suas armas e evoluí-las com ele, faz com que você seja mais curioso e explore mais os cenários em busca de objetos valiosos para descolar uma graninha extra para “tunar seu oitão”.
Como já mencionado, diferente dos zumbis dos jogos anteriores, aqui temos os ganados. A vila possui uma boa variedade de inimigos, vale dizer, comunicativos e camaradas. Os ganados até te avisam com muito carinho quando estão atrás de você. Além dos inimigos padrões, Resident Evil 4 reserva ótimas Boss Fights. Elas são difíceis, mas não irritantes, porém logo a última deixa a desejar. Esse é o seu maior problema. Ele te enche de expectativas com uma progressão fluida e muito divertida, inimigos e situações desafiadoras, e no final entrega uma luta muito fácil sem muitas emoções. Quando terminei, confesso que estava na expectativa de que esse era só o primeiro confronto e que haveria a grandiosa batalha final, mas não. Era só isso.
Mesmo que a dose seja mais moderada, o terror está vivo nas aventuras nada amistosas de Leon. Ainda existem trechos que podem te fazer se borrar de medo, principalmente os em que o Regenerator aparece. Eu não vou mentir. Tomei vários sustos com essa aberração no início. Ele não é em si assustador, mas a forma como ele aparece te faz dar aquele pulinho da cadeira ou falar o que não devia. Um outro trecho que tenho que admitir, me fez sair todo borrado foi a parte onde controlamos a Ashley. Meu amigo, que trecho tenso. Eu realmente fiquei com medo nessa parte.
O seu enredo é bem contado e cumpri a missão de te deixar curioso sobre o desfecho da história. É claro, ele possui trechos bem exagerados, que é nada mais que o jeito Shinji Mikami de ser (veja God Hand e Vanquish que vocês vão me entender). Particularmente, gosto de histórias onde o protagonista, além de se preocupar com a sua missão principal, ele deve correr contra o tempo com a sua saúde, como Batman Arkham City que eu amo de paixão. Vale destacar as piadinhas de tiozão de Leon, que geralmente tem o pobre do Salazar como alvo.
Não tem como falar de Resident Evil 4 sem sequer mencionar a ótima campanha da Ada, Separate Ways, que serve como um complemento para história principal. Além desse modo, temos o já mencionado Mercenaris e também outro modo protagonizado pela Ada, o Assignment Ada, que te bota no controle da agente para coletar cinco amostras da Plaga.
A trilha sonora faz muito bem o seu trabalho de ditar o ritmo da situação, funcionando como um maestro do horror em situações mais tensas. Elas não são marcantes, mas fazem muito bem o seu trabalho.
Um dos principais astros de Resident Evil 4 é a vila. Ela possui um aspecto repulsivo, grotesco e transmite um clima de “seja mal-vindo”. Ou seja, ela é o ambiente perfeito para uma história de terror, mas ela não se limita a só isso. Indo mais a fundo você pode ver vários cenários bem diversos e detalhados. Junto com a trilha sonora, ela ajuda a orquestrar o clima de tensão.
Uma coisa que praticamente todo fã de Resident Evil gosta de falar é o quanto a Ashley é chata. Bem, por não ter tido muitos problemas com ela, não a vejo como uma personagem tão irritante, é claro, tomei precauções para não ficar ouvindo aqueles gritos de “Leooon!” toda hora.
Resident Evil 4 é um jogo histórico. Como já dito nessa análise, ele revolucionou os jogos de ação em terceira pessoa e iniciou um trajeto meio estranho para franquia. A sua influência é vista até hoje, inclusive nos remakes de Resident Evil 2, 3 e em Resident Evil Village.
Mesmo com toda essa importância, não posso negar que me senti meio frustrado com a última batalha. Embora isso não torne o pacote completo ruim, confesso que o final deixou um sabor amargo. Ainda sim, Resident Evil 4 é um ótimo jogo e vale muito apena ser degustado por novos jogadores.